Março é o mês de conscientização e prevenção do câncer colorretal, uma doença que merece uma atenção especial! O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 17.380 casos em homens e 18.980 em mulheres para cada ano do biênio 2018-2019, representando a terceira neoplasia mais frequentes nos homens e a segunda nas mulheres brasileiras. Em nível mundial, também apresenta papel de destaque, ocupando a terceira posição entre as neoplasias mais diagnosticadas e a quarta principal causa de morte por câncer em 2012. Vale ressaltar que, mesmo com os grandes avanços na medicina, é esperado um aumento de casos nos próximos anos, sendo estimado 2,2 milhões de novos casos e 1,1 milhões de mortes até 2030.
O aperfeiçoamento dos métodos de rastreamento, diagnóstico e tratamento dessa neoplasia foram fundamentais para o aumento significativo das chances de cura e do tempo de sobrevida. Porém, nem todos os pacientes são tratados iguais. Existe uma variação nas taxas de incidência e de mortalidade da doença no mundo, que está relacionada com o índice de desenvolvimento socioeconômico. Nos países com baixo e médio desenvolvimento, vivenciamos um aumento no número de novos casos, acompanhado de um maior número de mortes, como é o exemplo do Brasil. Inversamente, existe uma tendência a estabilidade ou queda de novos casos e mortalidade em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos. Mas qual a justificativa para essa disparidade? A resposta é complexa e envolve diversos fatores.
Uma das explicações é a falta de acesso aos métodos de rastreamento. Esses exames são realizados em pacientes assintomáticos com intuito de diagnosticar lesões pré-malignas ou tumores iniciais, aumentando assim as chances de cura. No Brasil, o rastreamento está indicado na população geral entre 50 a 74 anos, porém uma grande parcela da população, principalmente os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), não realizam os exames indicados por falta de políticas de saúde pública adequadas.
A demora para o fazer o diagnóstico em pacientes com sintomas também reduz as chances de cura. Seja por dificuldade para agendar consulta no sistema de saúde ou desinformação, o atraso para investigar sintomas como sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal (diarreia ou constipação) e dor abdominal pode aumentar o risco de disseminação do tumor para outros órgãos, o que chamamos de metástases, e reduzir drasticamente as chances de cura. A atenção para esses sinais de alarme é importante para que a população procure avaliação médica no tempo adequado.
Outro fator de extrema importância está relacionado às opções de tratamento para o câncer colorretal. Estudos realizados nos últimos anos reforçam que a falta de acesso ao tratamento oncológico contribui para maior mortalidade. Um desses estudos, publicado em 2010, Altekruse et al, mostrou que a mortalidade por câncer colorretal é 10% maior em homens negros comparado com homens brancos e 7% maior em mulheres negras comparados com as brancas. No entanto, outro estudo (Bach et al., 1999; Dignam et al., 1999, 2003), mostrou taxas de sobrevida semelhantes em afrodescendentes e brancos que vivem nos Estados Unidos recebendo o mesmo tipo de tratamento. Esses dados sugerem então, que o acesso ao tratamento, é o fator de impacto no aumento da sobrevida.
Quando avaliamos a situação do Brasil, notamos uma disparidade no acesso ao tratamento entre o sistema de saúde privado e o SUS. Um exemplo, são as classes de medicamentos chamados anticorpos monoclonais, anti EGFR e os anti VEGF, que quando associados à quimioterapia na doença metastática, são capazes de aumentar o tempo de sobrevida. Atualmente, no Brasil, esses medicamentos são de fácil acesso no meio privado. Já no SUS, os pacientes não têm tal disponibilidade.
Fica claro que o acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer colorretal não é igual para todos, difere entre países, regiões do mesmo país e entre classes sociais. Melhorias nas opções de tratamento e acessibilidade são essências principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Faz-se necessário a priorização na prevenção primária, no diagnóstico precoce e nas estratégias de diminuição na disparidade de tratamento entre os sistemas de saúde público e privado para que todos tenham as mesmas chances de cura.