Com o tema Translating Evidence to Multidisciplinary Care, o Simpósio de Câncer Genitourinário da ASCO deste ano trouxe resultados de importantes pesquisas que mudarão o padrão de cuidados de muitos pacientes. Realizado de 14 a 16 de fevereiro, em San Francisco, o congresso reuniu especialistas do mundo inteiro envolvidos com os cuidados de pacientes com câncer de próstata, bexiga, rins, testículo e adrenal. Tive a oportunidade de estar lá e assistir três dias intensos de apresentações, algumas realmente empolgantes.
Inicialmente, o foco foi no câncer de próstata. Surgiram os primeiros resultados clinicamente relevantes de um novo medicamento, chamado Darolutamida. Foi estudada em pacientes com câncer de próstata já tratados, em que não se descobriram metástases, mas em que o PSA começou a elevar, apesar do bloqueio hormonal. Não obstante os resultados razoavelmente semelhantes ao que já temos com Apalutamida e Enzalutamida, aparentemente é uma droga com ainda menos efeitos colaterais do que as duas, disponíveis no Brasil e consideradas bem seguras. Talvez seja interessante discutir o custo para decidir se vale a pena ter mais uma opção.
Ainda neste tema, um estudo com Enzalutamida demonstrou muito bons resultados como tratamento inicial para pacientes com doença metastática, em conjunto com bloqueio hormonal simples, nosso antigo padrão.
Outras importantes discussões foram a respeito de biomarcadores, das melhores sequências de tratamento, da melhor forma de avaliar resposta e se é possível identificar pacientes que se beneficiariam de imunoterapia, a nova forma de tratamento que tanto atraem leigos e especialistas.
Posteriormente, foram apresentadas importantes atualizações em câncer renal. Hoje, ainda estamos lutando pela aplicação prática da decisão da Comitê Nacional de Incorporação de Tecnologia de Saúde (Conitec) de incorporar o uso de Sunitinibe ou Pazopanibe no SUS, para pacientes com câncer renal avançado. E, atualmente, sabemos que mesmo essas tecnologias já vêm sendo superadas. Foram mostrados dados atualizados de combinação de imunoterapia (Ipilimumabe e Nivolumabe) em pacientes sem nenhum tratamento anterior, comprovando ser melhor que Sunitinibe em pacientes com risco moderado/alto, mas pior naqueles com doença de baixo risco. A vantagem global é que alguns pacientes foram curados, com a combinação de imunoterapia. Outro importante estudo avaliou a combinação de Axitinibe com Pembrolizumabe, em primeira linha, e também mostrou resultados bem superiores a Sunitinibe, em todos os subgrupos. A expectativa de vida parece dobrar com as novas combinações. Parece que temos novos padrões de tratamento.
Infelizmente, o alto custo destes tratamentos vai limitar o acesso em muitos lugares. Mesmo Estados Unidos e Europa estão dando cada vez mais importância às avaliações de custo-efetividade e se preocupando com o impacto do custo na sociedade.