O câncer de próstata é a neoplasia mais comum nos homens no Brasil (sem considerar os tumores de pele não melanoma) e o segundo câncer que mais mata. Pelos dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram mais de 68 mil casos novos em 2018, com mais de 14 mil mortes relacionadas à doença. Sua incidência é maior em países desenvolvidos e vem aumentando em todo mundo na última década por conta das melhores técnicas de diagnóstico e maior expectativa de vida. O principal fator de risco é a idade; mais de 75% dos diagnósticos acontecem após os 65 anos. A boa notícia é que cada vez mais homens se curam dessa doença e naqueles em que o quadro é mais avançado, novos medicamentos descobertos na última década tem melhorado muito o tempo e qualidade de vida.
Em fevereiro, estive em Houston, no estado do Texas, nos EUA, onde fica o maior e mais importante Complexo Hospitalar Oncológico do mundo – o MD. Anderson Câncer Center – reunido com especialistas brasileiros e americanos para discutir as novidades no tratamento do câncer prostático. O encontro foi liderado pela oncologista Eleni Efstathiou, uma das maiores especialistas no assunto, no mundo. Foi possível a troca de experiências e discussões de casos, além de importantes debates sobre as opções de tratamentos.
Até poucos anos atrás, os tratamentos para neoplasia prostática estavam restritos aos procedimentos muito invasivos ou com muitos efeitos colaterais e, na doença avançada, com metástases, existiam poucas opções de tratamento. As cirurgias para ressecção da próstata eram mais agressivas e com maiores riscos e a radioterapia com técnicas mais obsoletas causavam muitos efeitos colaterais que podiam comprometer a qualidade de vida do indivíduo curado. Hoje, as cirurgias minimamente invasivas estão se tornando cada vez mais frequentes, ou por via laparoscópica ou cirurgia robótica, que diminuem os riscos de complicações, além do tempo de internação. O Hospital Vera Cruz, em Campinas-SP, onde o grupo SOnHe também atua, tornou-se recentemente o primeiro hospital do interior de São Paulo a adquirir um robô para este tipo de procedimento. O avanço dos aparelhos e tecnologias também permitiram à radioterapia disponibilizar tratamentos mais seguros e menos traumáticos. Alguns aparelhos são até mesmo capazes de redirecionar o feixe de radiação de acordo com os movimentos respiratórios do paciente.
Mas foi no contexto da doença mais avançada que surgiram, nos últimos anos, novos medicamentos com eficácia comprovada e que retardam sua evolução. O conceito básico de que o tumor prostático é extremamente influenciado pelos níveis de testosterona no organismo e que o bloqueio desse hormônio poderia inibir o crescimento tumoral vem desde a década de 40, mais precisamente 1941, com Charles Huggins, urologista que primeiro demonstrou que o tratamento de bloqueio da ação da testosterona, fazia o câncer de próstata regredir, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina, em 1949. Desde então, a inibição da ação da testosterona nos pacientes com esse tipo de câncer vem sendo empregada com sucesso. Mas, infelizmente, seu efeito não é duradouro, na maioria dos pacientes. Em 2004, um estudo chamado TAX 327 mostrou eficácia do quimioterápico Docetaxel naqueles pacientes que progrediam após o bloqueio hormonal, mas com uma série de efeitos colaterais. Basicamente, essas eram as opções de tratamento na doença avançada até o início desta década.
Mais recentemente, com o melhor entendimento da biologia tumoral e da forma como a testosterona participa no estímulo ao crescimento do tumor, novos medicamentos se mostraram eficazes e com efeitos colaterais bem toleráveis, além de serem tomados na forma de comprimidos, liberando o paciente da necessidade de ficar longos períodos em clínicas oncológicas para receber medicação na veia. Dois desses medicamentos são Abiraterona e Enzalutamida. Primeiramente, eles se mostraram capazes de interromper o crescimento tumoral naqueles pacientes que já tinham falhado à quimioterapia e, posteriormente, foi comprovado o benefício em fases mais iniciais da doença metastática. Essas duas drogas aumentam o tempo de vida e claramente melhoram a qualidade de vida dos pacientes, mesmo naqueles com maiores volumes de doença. Elas são cobertas pelos planos de saúde e já amplamente usadas no Brasil. Entretanto, nenhuma delas é disponibilizada pelo SUS, o que ainda impede o acesso a esses tratamentos mais modernos e eficazes pelas pessoas mais humildes.
Recentemente foi aprovado pela ANVISA uma nova medicação chamada Apalutamida para o tratamento dos tumores prostáticos que não estão respondendo ao bloqueio convencional da testosterona, mas ainda estão sem metástases. Portanto, aparentemente, quanto mais cedo iniciamos o tratamento com esses medicamentos, melhores são os resultados. A Enzalutamida também mostrou eficácia nesse contexto mais precoce de doença. Nesse momento, existem estudos com Apalutamida também na doença metastática. Outros medicamentos, como o Radium 223, melhoram muito as dores causadas pelas metástases ósseas e também aumentam o tempo de vida dos pacientes.
Algumas dúvidas ainda existem com relação ao tratamento. Qual o real papel dos exames de imagens mais modernos, como o PET PSMA, e qual o melhor momento para sua realização? Qual o melhor sequenciamento de tratamento e é possível associar esses medicamentos com objetivo de melhores resultados? O tratamento da doença na próstata com cirurgia ou radioterapia, quando a doença já apresenta metástases, traz algum benefício adicional? Todas essas questões foram amplamente discutidas nesse encontro nos EUA, com o objetivo de oferecer aos pacientes sempre o melhor tratamento.
Além do encontro em Houston, aconteceu em São Francisco, também nos EUA – até dia 16 de fevereiro, o ASCO GU, Congresso Americano de Oncologia Urológica, com participação do Dr. André Sasse, também oncologista e CEO do Grupo SOnHe. Nesse Congresso foram discutidas as principais inovações no tratamento, não apenas do câncer de próstata, mas também de bexiga e de rim. Em breve, Dr. Andre postará as novidades desse importante congresso. Portanto, embora o câncer de próstata se mantenha como o maior inimigo oncológico dos homens, as descobertas recentes têm mudado a história natural da doença e permitido que mais e mais pacientes se curem ou vivam mais tempo com excelente qualidade. E os médicos do Grupo SOnHe não tem descansado na busca por essas inovações.