O câncer de pele é o mais comum no Brasil e no mundo, correspondendo a aproximadamente 33% de todos os tumores malignos (165.580 novos casos são estimados pelo Instituto Nacional do Câncer, INCA, para 2018, sendo 51% em homens). Dentre os seus subtipos, os cânceres de pele não melanomas são os mais frequentes, mas geralmente menos letais. Já o melanoma, que representa cerca de 4% dos tumores de pele, se não diagnosticado na fase inicial da doença tem alta mortalidade. Por isso a prevenção e diagnósticos precoce ainda são as medidas mais baratas e eficientes no combate a este tipo de doença, que vem passando por uma revolução nos últimos anos com novos tratamentos disponíveis.

O câncer de pele é mais comum em pessoas acima dos 40 anos com pele, cabelos e olhos claros, sendo relativamente raro em crianças e negros, com exceção daqueles já portadores de doenças cutâneas anteriores. Pessoas com pele clara e que se expõem muito ao sol ao longo da vida vão sofrendo danos na pele com lesões no DNA da célula, o que aumenta a chance do aparecimento de um câncer. E engana-se quem acha que a exposição ao sol durante os fins de semana, na piscina ou praia seja o único inimigo. O sol do dia a dia, quando saímos de casa para o trabalho, supermercado ou shopping também causa danos que podem levar ao aparecimento do tumor de pele. O grande problema é que a maioria das pessoas não se protege diariamente, lembrando do protetor solar e chapéus apenas quando estão em lazer.

A pele é o maior órgão do corpo humano e é extremamente heterogênea e, portanto, pode ser acometida por diferentes tipos de câncer que surgem de células de linhagens diferentes com comportamentos também diferentes. Os mais frequentes são o carcinoma basocelular e o carcinoma epidermoide. Menos frequentes – porém mais letais – são o melanoma e o carcinoma de células de Merkel.

O carcinoma basocelular é o mais comum e sua incidência vem aumentando nos últimos anos. É também o menos agressivo, raramente se espalhando para outros órgãos. O tratamento padrão é a cirurgia e em alguns casos radioterapia. Mas, quando mais agressivo, este tumor pode destruir estruturas ao redor do local em que surgiu, comprometendo a funcionalidade e estética, principalmente quando ocorre na face, em locais como nariz e orelhas. Para aqueles raros casos em que o tumor se espalha para outros órgãos, existe um tratamento novo no Brasil, aprovado pela Anvisa, chamado Vismodegib. Essa medicação age inibindo uma via de sinalização celular chamada hedeghog, que está ativada em 90% dos casos mais avançados de basocelular.

Outro tumor de pele muito frequente é o chamado carcinoma epidermoide (CEC), que é mais agressivo que o basocelular e com maior chance de causar metástase para linfonodos e outros órgãos. Seu tratamento geralmente também é com cirurgia ou radioterapia, mas nos casos avançados e metastáticos o tratamento usual é com quimioterapia. Infelizmente, para esse tipo de tumor a quimioterapia tem baixas respostas e não existem estudos que comprovem o seu impacto na melhora tanto da qualidade quanto do tempo de vida. A imunoterapia, medicamentos que ativam o sistema imunológico do próprio paciente contra o câncer, tem mostrado resultados promissores no tratamento dos tumores de pele.  Recentemente foi aprovado pelo FDA, nos EUA, a droga imunoterápica Cimiplimab, um anti-PD-1, que mostrou taxas de resposta de 47% em pacientes com CEC de pele avançado. Esta medicação ainda não foi aprovada pela Anvisa e, portanto, ainda não está disponível no Brasil, mas esperamos em breve tê-la como opção.

Recentemente, foi aprovado no Brasil um tratamento para um outro tipo de câncer de pele (mais raro, mas muito agressivo!) chamado carcinoma de células de Merkel, um tipo de tumor neuroendócrino de pele. Até agora, um tumor com poucas opções de tratamento, no qual a quimioterapia convencional com platina era o mais usado, mas trazendo resultados ruins e com muita toxicidade. Mais uma vez a imunoterapia veio para mudar a evolução também deste tipo de câncer de pele. Tivemos, recentemente, a aprovação no Brasil da medicação Avelumab, um anti-PDL-1, trazendo resultados promissores e com menos efeitos colaterais.

Por fim, temos o melanoma, que mesmo representando apenas 4% dos tumores de pele é, sem dúvida, o mais temido e agressivo e sua incidência também vem aumentando no mundo. Até 2011 não tínhamos nenhum tratamento com eficácia comprovada e muitas pessoas morriam rapidamente em decorrência de suas metástases. Em 2011 tivemos a aprovação da imunoterapia Ipilimumab, que foi a primeira medicação a aumentar o tempo de vida dos pacientes. E, desde então, novos medicamentos foram desenvolvidos e, hoje, estão disponíveis. Para tratar os melanomas avançados temos duas classes de drogas aprovadas: a primeira é a chamada terapia-alvo, com medicamentos que associam inibidores do BRAF e MEK. Esses medicamentos funcionam para os pacientes que tem mutação em um gene chamado BRAF (portanto é necessário saber se o tumor tem a mutação antes de iniciar o tratamento). A outra classe é a imunoterapia – já comentada acima – que ativa o sistema imunológico do paciente. Existem hoje, no Brasil, três opções de imunoterapia para melanoma: Nivolumab, Pembrolizumab e Ipilimumab, podendo ainda ser feita a associação de dois medicamentos como Nivolumab+Ipilimumab. Estas medicações mudaram a história natural da terrível doença e, atualmente, os pacientes vivem mais e melhor.

Apesar do desenvolvimento de novos tratamentos, muito mais eficazes e com menor toxicidade, os tumores de pele quando muito avançados ainda comprometem a qualidade de vida e causam a morte de um grande número de pacientes. Por isso, o ideal continua sendo a prevenção, visto que a maior parte dos cânceres de pele são evitáveis. É essencial a proteção da pele contra os danos causados pelo sol. Evitar a exposição direta ao sol entre os horários das 9 da manhã até às 16 horas. Manter a pele coberta por roupas de mangas longas, uso de chapéus ou bonés. Usar protetor solar no rosto e corpo, todos os dias e não apenas na praia ou piscina. E lembrar de repassar o protetor, pelo menos, de quatro em quatro horas. Aquelas pessoas de pele, cabelos e olhos claros, além de quem tem parentes de primeiro grau que já tiveram câncer de pele, devem ter o cuidado redobrado. Para quem tem muitas manchas, pintas e lesões de pele causadas pelo sol, a visita regular ao dermatologista é fundamental.

Vivemos em um país tropical, com alta incidência solar, com dias muito quentes e um inverno pouco rigoroso. Estamos mais expostos aos riscos que a radiação solar traz. Além disso, estamos próximos do fim do ano e época de férias escolares, momentos propícios para viagens e diversão, mas também época em que mais nos colocamos em risco aos danos causados pelo sol. Por isso dezembro foi escolhido para ser o mês da campanha de combate ao câncer de pele. Trata-se da campanha do Dezembro Laranja. Vamos todos nos prevenir e entrar nessa onda!