Hoje abordaremos os destaques no tratamento dos tumores gastrointestinais discutidos no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO), que ocorreu na cidade de Munique, entre os dias 19 e 23 de outubro de 2018. Dentre inúmeros trabalhos apresentados, destaco três estudos com impacto positivo para nossos pacientes.
O primeiro estudo avaliou a imunoterapia no tratamento do câncer de intestino. Essa forma de tratamento já está aprovada no Brasil para diversos tipos de tumores como os de pulmão, melanoma, rim, bexiga, estômago e tumores de cabeça e pescoço, mas ainda não para o câncer de intestino. Nos Estados Unidos, a imunoterapia está aprovada em tumores avançados, independentemente do local de origem, que foram previamente tratados e que apresentam instabilidade de microssatélite (MSH-H) ou deficiência de mismatch repair (dMMR), que são genes relacionados ao reparo do DNA. No estudo apresentado no congresso, o objetivo de um de seus braços foi avaliar a combinação de dois imunoterápicos, nivolumabe e ipilimumabe, em pacientes com câncer colorretal com metástases, sem tratamento prévio, e que apresentavam instabilidade dos genes de reparo (MSH-H ou dMMR). Os resultados foram animadores, com taxa de resposta objetiva de 60%, controle de doença de 84% e com desparecimento do tumor (resposta completa) em 7 dos 45 pacientes avaliados. Estes resultados abrem possibilidade para uma mudança na abordagem destes pacientes que são atualmente tratados com quimioterapia. Ainda são necessários estudos maiores para confirmação desses dados, que estão em andamento e teremos uma resposta em breve.
O segundo estudo avaliou o tratamento de uma medicação chamada TAS-102, ainda não disponível no Brasil, em pacientes com câncer de estômago metastático politratados. Os resultados foram positivos, com redução de risco de morte em 31% e ganho de 2,1 meses no tempo de vida dos pacientes. O tratamento também proporcionou redução no risco de progressão do tumor e maiores taxas de resposta. Estes resultados respaldam a medicação como mais uma opção no arsenal do tratamento do câncer de estômago. Mas ainda precisamos de aprovação para o uso no Brasil.
O terceiro estudo, chamado InterAACT, avaliou pacientes com câncer de canal anal avançado sem tratamento prévio, e comparou dois esquemas de quimioterapia. O tratamento padrão com cisplatina e flourouracil (braço 1) versus carboplatina e paclitaxel (braço 2). O objetivo primário de estudo foi a taxa de resposta, com resultados muito semelhantes: 57% no braço 1 e 59% no braço 2. Os objetivos secundários foram sobrevida global, que se revelou superior para o braço 2, acompanhado de menores efeitos colaterais. Diante destes dados, a combinação de carboplatina e paclitaxel torna-se uma opção a ser considerada como primeira linha de tratamento, acompanhado de menores toxicidades.
Como vimos, a ciência continua descobrindo terapias mais eficazes e com menos efeitos colaterais para o combate ao câncer. Os resultados aqui apresentados foram positivos, contribuindo para nosso objetivo de dar qualidade de vida e aumentar as chances de cura dos nossos pacientes.