O estudo JAVELIN 101 foi o principal estudo apresentado na ESMO este ano no tocante ao câncer de rim. Nos dias atuais, o principal tratamento para pacientes com câncer de rim e com doença metastática é a classe de drogas conhecidas como inibidores de tirosino-quinases (TKIs), como por exemplo o Sunitinibe e o Pazopanibe. Essas medicações, conhecidas como drogas-alvo agem em vias específicas do tumor, levando em última análise a morte da célula tumoral. Estudos mais recentes mostraram o papel da imunoterapia no tratamento destes pacientes. Diferente da quimioterapia convencional e mesmo das drogas-alvo, os imunoterápicos agem estimulando nosso sistema imunológico no combate ao câncer. A imunoterapia se mostrou superior em termos de aumentar a sobrevida dos pacientes em relação ao Sunitinibe.

O JAVELIN 101 comparou a associação do Avelumabe, um imunoterapico com o Axitinibe, uma droga-alvo da classe dos TKIs em pacientes com câncer de rim metastático. Neste estudo, 886 pacientes foram divididos em dois grupos semelhantes em que pacientes do grupo experimental receberam a associação de Avelumabe com Axitinibe e pacientes do grupo controle receberam o tratamento padrão: Sunitinibe. O grupo de pacientes que recebeu o tratamento experimental teve uma maior sobrevida livre de progressão da doença em comparação ao grupo controle, ou seja, o câncer demorou mais tempo para progredir em quem recebeu a associação imunoterapia com droga-alvo (13,8 meses X 8,4 meses). Em termos de efeitos colaterais, a adição da imunoterapia à terapia-alvo se mostrou segura e não aumentou significativamente as taxas de efeitos adversos já esperados para este tratamento. Vale ressaltar que no Brasil tal tratamento ainda não está liberado pela Anvisa para ser prescrito pelos oncologistas, porém em um futuro próximo deverá mudar a conduta médica.

Outro estudo apresentado neste congresso e que merece menção é o ATLAS. Para pacientes com câncer de rim localizado ou localmente avançado, mas sem evidência de metástases a distância, a cirurgia oncológica é o tratamento padrão e único capaz de promover a cura. Porém, quanto mais avançado no local for o tumor, maior é a chance de recidiva futura (desenvolvimento de metástases). Até o momento, não há evidências científicas robustas de que algum tratamento oferecido após a cirurgia para estes pacientes consiga diminuir a chance de recidiva do câncer, ou seja, não temos ainda um tratamento adjuvante padrão.

No estudo ATLAS, os investigadores avaliaram o papel do Axitinibe, uma droga-alvo da família dos TKIs utilizada no tratamento de pacientes com câncer de rim metastático como dito anteriormente, porém, agora, no cenário adjuvante, ou seja, após a cirurgia com intuito curativo. Mais de 700 pacientes foram divididos em dois grupos semelhantes em que, no grupo padrão, os pacientes após cirurgia receberam placebo e, no grupo experimental, Axitinibe por no mínimo um e no máximo três anos. Os investigadores concluíram que não houve diferença estatisticamente significativa em termos de sobrevida livre de doença (câncer) entre os dois grupos, ou seja, receber a droga-alvo não melhorou a sobrevida dos pacientes após a cirurgia e ainda aumentou o risco de efeitos colaterais. Portanto, para pacientes com câncer de rim com doença localizada ou localmente avançada e sem metástases a distância, a cirurgia oncológica realizada por profissional médico qualificado permanece como tratamento padrão.