No cenário da pesquisa de câncer da mama, vários estudos se destacaram no congresso Europeu de Oncologia (ESMO 2018), ocorrido semana passada. Um dos estudos que mais teve repercussão foi o estudo SOLAR-1. Neste estudo, a associação do medicamento alpelisib ao hormônio praticamente dobrou a sobrevida das pacientes em comparação com o uso isolado do hormônio. Este benefício foi avaliado em pacientes com câncer de mama avançado, receptor hormonal positivo e HER2 negativo e cujos tumores apresentavam uma mutação específica (chamada de PIK3CA). Este estudo demonstra uma nova opção terapêutica para as pacientes com esse tipo de mutação.
Os resultados do estudo de fase III SOLAR-1 indicam a necessidade de se identificar adequadamente uma alteração genômica e sua droga-alvo. Os resultados terão um grande impacto na prática, porque testes genômicos para câncer de mama terão que ser implementados para o uso ideal do alpelisib. Não houve benefício no uso de alpelisib em pacientes sem uma mutação PIK3CA. Esta descoberta pode afetar uma proporção significativa de pacientes com câncer de mama. No geral, aproximadamente 70% dos cânceres de mama são classificados como receptor hormonal (HR) positivo / HER2 negativo e em torno de 40% das pacientes tem tumores com mutação ativadora do PIK3CA.
Também no congresso houve a atualização do estudo PALOMA-3. De acordo com esta recente análise, a combinação de palbociclibe (Ibrance) mais fulvestrano (Faslodex) levou a um benefício clinicamente significativo na sobrevida global (SG) em pacientes com câncer de mama avançado, receptor de hormônio (HR) positivo, HER2-negativo, que haviam progredido ou recaído em terapia endócrina anterior. Este beneficio significou um ganho de 10 meses para os pacientes sensíveis à terapia endócrina prévia que utilizaram a combinação palbociclib e fulvestrano com um mediana de sobrevida global de quase 40 meses. O resultado deste estudo é o primeiro ganho de sobrevida global de um estudo de hormonioterapia com um inibidor das quinases dependentes de ciclina (CDK4/6) em segunda linha de tratamento.
Outro estudo que teve uma nova análise foi o Short-HER, no qual os avaliadores observaram que tumores HER2 positivos menores que dois centímetros e sem comprometimento axilar podem ter a mesma sobrevda livre de recorrência usando trastuzumabe por nove semanas comparando com o padrão de um ano de tratamento, além de menor toxicidade cardíaca. Este trabalho provou ser possível em casos selecionados um descalonamento seguro do tratamento.
Por fim, no cenário dos tumores triplo negativo, um estudo de grande impacto foi apresentado. Este estudo representa a primeira combinação de imunoterapia e quimioterapia que mostrou ganhos de sobrevida em pacientes com carcinoma da mama triplo negativo metastático. O estudo Impassion130 avaliou em 902 pacientes a associação de Atezolizumab e nab-paclitaxel versus nab paclitaxel isolado. Novamente, a análise da característica do tumor se revela essencial, dado que o maior benefício ocorreu em pacientes cujos tumores eram positivos para PD-L1 (ligante de morte programada da célula 1). Os pacientes tumores PD-L1 positivos tiveram um ganho de progressão de 2,5 meses e de sobrevida global de 9,5 meses. São resultados impressionantes para sobrevida global, agora com a imunoterapia, em um tumor ainda com pouco armamentário terapêutico.