O congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO) acontece uma vez por ano, em alguma cidade da Europa. Neste ano, a escolhida foi Munique, que abrigou o encontro entre os dias 19 e 23 de outubro. Neste evento – o segundo mais importante do ano da Oncologia mundial – novas pesquisas têm seus resultados divulgados e os médicos têm a oportunidade de debater e trocar experiências sobre as novidades dos diversos tipos de câncer. Dentre eles, neste ano, a neoplasia de ovário teve uma importância notável.
Alguns estudos se destacam mais e são apresentados em uma sessão presidencial para todos os participantes e, na ESMO 2018, um estudo em pacientes com câncer de ovário metastático chamou a atenção. Nele, 391 mulheres com neoplasia de ovário em estágios avançados, com diagnóstico recente da doença ou da recorrência, que tiveram boa resposta ao tratamento-padrão com quimioterapia e mutação do gene BRCA, foram selecionadas para receber uma medicação chamada Olaparib ou placebo como manutenção, ou seja, após o término da quimioterapia. Os resultados foram excelentes e mostraram que o uso desta medicação reduz o risco de progressão ou morte em 70%. Após três anos, 60% das pacientes que receberam a droga estavam vivas e sem progressão, enquanto no grupo placebo, apenas 27%. Vale ressaltar que os efeitos colaterais do tratamento aumentam de 12 para 21%, porém as alterações principais foram hematológicas (e não náuseas, vômitos, diarreia ou fadiga), sem nenhuma consequência fatal e com bom manejo apenas com suspensão ou adiamento da droga. Uma observação importante é que as pacientes do grupo placebo usaram a medicação em outros momentos mais tardios e, mesmo assim, aquelas que usaram no começo tiveram benefício. Portanto, sugere-se que a mutação do gene BRCA seja testada em todas as pacientes com câncer de ovário avançado, desde o diagnóstico, a fim de selecionar as que possam se beneficiar deste tratamento.
Além deste destaque, a imunoterapia também veio à tona. Esta terapia tem tido um papel crucial na evolução da Oncologia nos últimos anos em diversos tipos de tumores e, agora, começam a aparecer nas neoplasias de ovário. Alguns estudos foram apresentados com tentativas de uso da imunoterapia para pacientes refratárias à quimioterapia inicial. Um deles foi o Keynote-0100, que avaliou o uso de Pembrolizumabe no tratamento destas pacientes, identificando possíveis marcadores que sugiram em benefício do seu uso. Outro trabalho testou a associação de Nivolumabe e Bevacizumabe, com taxas de resposta animadoras, mas com número pequeno de pacientes e ainda sem dados de sobrevida concretos. Estas linhas de pesquisa são importantes para direcionamento de estudos maiores destas drogas, visando alcançar benefícios mais notáveis.
A ciência continua avançando e esperamos cada vez mais novidades em prol dos nossos pacientes, que são o foco desses estudos e do compartilhamento de experiências entre os médicos.