Se existe um sonho que sempre permeou a mente humana foi o de viver por mais tempo; quem sabe buscar até a imortalidade! Desde nossos primórdios tentamos – a muito custo – uma passagem mais longeva por este mundo, o que, podemos dizer, tem surtido bons resultados. Se imaginarmos que na Roma Antiga e no Período Medieval as pessoas viviam em media 25 a 30 anos, a mesma expectativa de vida dos nossos ancestrais Neandertais e que hoje, no Brasil, vivemos em média 73 anos, notamos que muita coisa mudou.

A primeira mudança a permitir tal transformação foi a noção mínima de higiene do próprio corpo e, mais tarde, o surgimento e disseminação de saneamento básico, o que levou a uma queda vertiginosa nas epidemias que dizimaram muitos povos. Depois, o entendimento do que seria saúde e doença e o avanço na medicina com o boom recente de novas tecnologias nos alçou a voos mais distantes do que poderíamos imaginar.

A medida que vivemos mais, passamos a conviver com condições antes consideradas mais raras. E uma delas é o câncer, uma doença causada pelo nosso próprio organismo, muitas vezes induzida por fatores externos e evitáveis, mas que certamente tem relação direta com o envelhecimento. A maioria dos tumores aparecem em idades mais avançadas e são relativamente raros em indivíduos mais jovens, com algumas exceções.

Podemos dizer que há 100 anos a principal causa de morte eram doenças infectocontagiosas, só lembrando de algumas que quase levaram ao desaparecimento de civilizações e cidades inteiras como a peste negra, na Europa medieval, e a febre amarela que quase tirou Campinas do mapa do final do século XIX. A partir do século XX, com as doenças infecciosas mais controladas e a mortalidade infantil em franca queda, a média de vida pulou para a casa dos 60 anos. Estes fatos associados às mudanças no estilo de vida – como elevação do sedentarismo e dietas ricas em gorduras e frituras – as doenças cardiovasculares saltaram para o primeiro lugar nas causas de morte. Passou a ser comum as pessoas morrerem de infarto agudo do coração e derrames cerebrais.

Mas não paramos por aí. A medicina continuou avançando e, apesar de todo estilo de vida distorcido no qual nos inserimos na era dos fast foods, conseguimos fazer com que um número cada vez maior de pacientes sobrevivesse a algum distúrbio cardíaco ou vascular. E, nesse processo, o câncer começou a bater cada vez mais forte em nossas portas. Hoje, são raríssimas as pessoas que não tem um caso de câncer na família ou entre conhecidos próximos. E, apesar da ascensão desta doença, também é cada vez maior o número de pacientes que encontram a cura. Os métodos diagnósticos melhoraram e, com isso, descobrimos mais pacientes com câncer, mas também fazemos o diagnóstico mais cedo. As técnicas cirúrgicas avançaram e inegavelmente surgiram melhores tratamentos como quimioterapias mais eficazes. E com o maior entendimento da biologia molecular e imunologia, as terapias alvos e imunoterapias vêm ganhando mais espaço com resultados inimagináveis há 10 anos.

Alguns cânceres têm relação direta com a idade, como por exemplo, o câncer de próstata. Sua incidência aumenta vertiginosamente após os 60 anos e é certo que quase 100% dos homens teriam câncer de próstata se vivêssemos até os 150 anos. Dados de biópsias realizadas em necropsias de homens que morreram de outras causas e não sabiam ter câncer, mostram que nesses homens foi encontrado câncer de próstata em até 80% deles quanto tinham mais de 75 anos no momento da morte.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que as doenças neoplásicas são hoje a segunda maior causa de morte no Brasil, com 576 mil casos novos em 2018, incluindo os casos de câncer de pele não melanoma. Uma pesquisa divulgada em abril de 2018, pelo Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer em parceria com o Conselho Federal de Medicina, mostrou que o câncer já é a primeira causa de morte em 516, dos 5.570 municípios do país, ou seja, em 10% dos municípios. Estes índices são maiores nas cidades de regiões mais desenvolvidas com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Em abril de 2018, uma pesquisa divulgada pelo IBGE mostrou que o Brasil superou a marca de 30 milhões de idosos e o número de crianças vem diminuindo. A expectativa é que em 2031 o número de idosos ultrapasse o de crianças entre 0 e 14 anos e que o Brasil tenha a quinta maior população de idosos do mundo. Provavelmente, quando isso acontecer, o câncer será a maior causa de morte em todo país e não mais as doenças cardiovasculares.

A forma mais clara de diminuir as chances de termos câncer ao envelhecer é tomarmos medidas preventivas ao longo da vida, como evitar o álcool e o cigarro, fazer atividades físicas regulares e ter uma dieta saudável, diminuindo a quantidade de gorduras ,frituras e embutidos ingeridos. Somente a prevenção pode fazer com que cheguemos na terceira idade mais saudáveis e evitar um boom do câncer nas próximas décadas.