O dia 27 de julho é o Dia Mundial de Prevenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço. Durante todo este mês são realizadas campanhas de conscientização sobre o tipo de câncer e vamos aproveitar para esclarecer um tema pouco discutido e intrigante: existe relação entre sexo e câncer de cabeça e pescoço? A resposta é SIM.
Este câncer compreende todos os tumores que têm origem na boca (cavidade oral), nariz (nasofaringe, cavidade nasal e seios paranasais), garganta (orofaringe, hipofaringe, laringe) e nas glândulas salivares. Estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimam para 2018, 14.700 mil novos casos de câncer de cavidade oral e 7.670 mil novos casos de câncer de laringe, alcançando, quando somados, o posto de terceiro tumor mais frequente nos homens brasileiros.
Os dois principais fatores de risco são o tabagismo e o etilismo. Entretanto, a infecção pelo vírus HPV está ganhando cada vez mais destaque. É o HPV o responsável pela relação entre sexo e câncer de cabeça e pescoço. A transmissão ocorre durante o sexo oral não protegido. A infecção crônica pelo HPV tem maior relação com o desenvolvimento do câncer de orofaringe (garganta) e mais raramente em outros sítios da cabeça e pescoço.
Estudos epidemiológicos norte-americanos revelam uma diminuição de casos novos de câncer de laringe, hipofaringe e cavidade oral nas últimas décadas e isso se deve às campanhas antitabagismo. Na contramão desta tendência, os casos novos de câncer de orofaringe estão aumentando, com evidências relacionando a elevação à infecção por HPV. Dados sugerem que aproximadamente 70 a 80% dos pacientes com câncer de orofaringe na população norte americana e europeia são portadoras do HPV.
Este vírus é o mesmo relacionado ao câncer de colo de útero, vagina, vulva, ânus e pênis. Existem cerca de 150 subtipos de HPV, sendo o mais relacionado ao câncer de cabeça e pescoço o subtipo 16. Diferentemente dos outros fatores de risco, ele é responsável por câncer em pacientes mais jovens e sem hábito de tabagismo e etilismo. O vírus, assim como a incidência do câncer de orofaringe, é mais frequente em homens.
Os tumores relacionados à infecção pelo vírus apresentam uma melhor resposta ao tratamento, porém as estratégias são as mesmas para o câncer não relacionado ao vírus. As principais opções são cirurgia, radioterapia e quimioterapia, que são indicadas conforme o tamanho e disseminação do tumor.
Diante da agressividade do tratamento, que frequentemente causa sequelas permanentes, é importante a realização de medidas de prevenção. Temos duas estratégias efetivas para esse tipo de câncer relacionado ao vírus do HPV. A primeira delas é o sexo seguro, reforçando a necessidade de uso de preservativos em todos os tipos de prática sexual.
A segunda é a vacinação contra o HPV, que além de proteger contra o câncer de orofaringe, tem ação contra os cânceres de colo de útero, vagina, canal anal e pênis. A vacinação está disponível no setor privado e no SUS. As indicações para a vacinação de acordo com o Ministério da Saúde são: meninas e meninos dos 9 aos 14 anos, pacientes com câncer em quimioterapia ou radioterapia, transplantados e portadores de HIV entre 9 a 26 anos.
Vamos aproveitar o mês Julho Verde e participar desta campanha de conscientização dos tumores de cabeça e pescoço. Além de evitar os fatores de riscos mais conhecidos como cigarro e bebida alcoólica, é importante entender a relação entre sexo e este câncer, reforçando a importância do sexo seguro e a vacinação contra o HPV para o combate efetivo à esta neoplasia.