Na primeira semana do mês de junho ocorreu o maior congresso de oncologia do mundo em Chicago, onde mais de 35 mil oncologistas se reuniram para atualizações e discussões sobre o câncer. Entre o grande número de informações e de novas evidências científicas apresentadas, destaco as novas perspectivas de tratamento dos pacientes com metástases de baixo volume, denominada doença oligometastática.
As metástases são caracterizadas pela disseminação do tumor para outros órgãos a distância do local de origem. Isso se correlaciona a uma reduzida expectativa de vida, baixíssimas chances de cura e, na maioria dos casos, o tratamento é realizado com quimioterapia ou terapia-alvo molecular. Sabemos que as metástases são responsáveis por 85-90% das mortes relacionadas ao câncer e, diante deste prognóstico reservado, novas estratégias são necessárias para melhorar a evolução desfavorável.
Entre as metástases, temos um grupo que apresenta um número restrito de lesões e limitado a poucos órgãos que previamente definimos como oligometástases. Nestes pacientes, a terapia local das lesões é capaz de controlar a doença e levar a cura de alguns casos. As opções de tratamento mais utilizadas atualmente são as cirurgias de ressecção, a radioterapia convencional, a radiocirurgia, a radioablação e a combinação destas formas associada à quimioterapia ou à imunoterapia. A escolha da melhor abordagem vai depender do subtipo do tumor primário, local, número e tamanho da metástase, além das condições clínicas do paciente.
Em sua excelente aula, Dr. Ralph Weichselbaum, da Universidade de Chicago, discutiu estudos de vias moleculares ativadas nas metástases, revelando comportamentos distintos em termos de agressividade. Os dados sugerem que é possível a identificação molecular de metástases consideradas de baixo risco, responsáveis pelo desenvolvimento da doença oligometastática. Estes dados levantam perspectivas futuras para selecionar qual é o paciente ideal para realização de tratamento local.
Essas estratégias de tratamento estão disponíveis na prática clínica e com benefícios comprovados. Exemplo: a ressecção cirúrgica de metástase hepática e/ou pulmonar no câncer de cólon comprovadamente aumenta o tempo de vida e pode levar a cura em uma parcela considerável de pacientes.
A radioterapia convencional ou radiocirurgia, caracterizada pela administração de altas doses de radiação em uma região localizada, também pode ser utilizada para controle de metástases, principalmente em áreas com maior dificuldade de acesso cirúrgico, como o cérebro.
As terapias de ablação percutânea utilizam agulhas longas que transmitem energia térmica no tumor; assim, são capazes de direcionar o tratamento na área acometida e preservar os tecidos sadios. Tal técnica pode ser usada para diversas formas de câncer, entre elas o tratamento das lesões hepáticas.
O câncer metastático historicamente foi considerado uma doença incurável. Porém, a seleção de pacientes com oligometástases para realizar terapia local e mais recentemente o tratamento com imunoterapia conseguiram mudar este paradigma. O melhor entendimento das vias moleculares será fundamental para melhorar ainda mais as chances de cura dos pacientes.