Entre os dias 25 e 27 de abril de 2018, a Cidade do Panamá sediou o Fórum Latino-Americano de Oncologia (LOF 2018), evento que reuniu oncologistas da América do Sul, da América Central e do Caribe. Foram três dias de discussões, focadas especialmente nos cânceres de mama, de rim e de pulmão. Evento de alto nível científico, contou com a presença de especialistas e pesquisadores de países como EUA, Espanha, Áustria, Brasil, Argentina, México e Colômbia, que proferiram palestras e discussões de casos clínicos, sempre com a interação da plateia.
Câncer de mama
No primeiro dia, o tema foi o câncer de mama, com discussões focadas na doença hormônio-sensível, que corresponde à maioria dos casos. Foram apresentados dados de estudos clínicos sobre uma nova classe de drogas, os inibidores orais de tirosino-quinases dependentes de ciclinas 4 e 6 (CDK4/6), que quando associadas ao tratamento hormonal em pacientes com câncer de mama com positividade para receptores hormonais e com doença metastática (avançada/disseminada) foi capaz de aumentar o tempo para progressão da doença quando comparado à pacientes que só fizeram uso do tratamento hormonal padrão. Ou seja: pacientes que usaram a combinação de hormonioterapia com a nova droga demoraram aproximadamente dez meses a mais para que a doença progredisse. Essa nova classe de medicação oncológica está indicada tanto para pacientes que estão fazendo o primeiro tratamento para doença metastática quanto para pacientes que falharam a uma linha inicial de tratamento hormonal. A opinião de todos os especialistas presentes na mesa de discussão é que nos dias atuais, pacientes com câncer de mama com positividade para receptores hormonais e com metástases, o uso de quimioterapia convencional deverá ser adiado ao máximo e deve-se restringir às pacientes com grande volume de doença em órgãos-alvo – como fígado e pulmão, e que necessitam de uma resposta rápida (a chamada crise visceral) – ou para pacientes que eventualmente tenham apresentado progressão da doença em todas as linhas de tratamento hormonal. O palpociclibe, um representante desta nova classe de medicações inibidoras do CDK4/6, deverá estar disponível no Brasil nos próximos meses e será mais uma arma no tratamento das pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo. Um ponto bastante interessante para os médicos brasileiros presentes no evento foi ouvir a experiência de colegas de outros países que já usam os inibidores CDK4/6 em sua prática clínica. Saber como são manejados os eventos adversos e também quais os benefícios clínicos foi extremamente importante, uma vez que devemos começar a utilizar esta classe de mediações em breve no país.
Câncer de rim
O câncer de rim foi tema das discussões no segundo dia de evento. Apesar de pouco frequente, as opções de tratamento oncológico para esta neoplasia têm crescido nos últimos anos. Foram apresentadas novidades no tratamento cirúrgico que cada vez mais tende a ser menos agressivo para pacientes com tumores iniciais. Quanto ao tratamento farmacológico, foram apresentados dados atualizados dos estudos com os inibidores de tirosino-quinase, classe de drogas que revolucionou o tratamento dos pacientes com câncer renal metastático. Em 2007, a primeira geração desta terapia-alvo – composta por drogas como o sunitinibe e o sorafenibe – foi disponibilizada no Brasil. Desde então, outras medicações da mesma classe como o pazopanibe e também de outras classes como os inibidores de mTOR se incorporaram ao arsenal terapêutico disponível contra o câncer renal metastático. Foram apresentados também dados dos estudos com imunoterapia para pacientes que progrediram a doença após uso dos inibidores de tirosino-quinases. Neste cenário, pacientes que receberam imunoterapia tiveram uma sobrevida maior em relação aos pacientes que receberam terapia-alvo com inibidor de mTOR, considerada o padrão até o momento. Após as apresentações, os palestrantes se reuniram em uma mesa de discussão com apresentação de casos clínicos de pacientes tratados em serviços de diferentes países. Os oncologistas da plateia puderam participar com perguntas. Foi um momento de grande aprendizado e de troca de experiências.
Câncer de pulmão
O terceiro e último dia foi dedicado às discussões sobre câncer de pulmão, cujo tratamento tem evoluído muito nos últimos anos. Saímos de uma era na qual os pacientes com câncer de pulmão eram divididos em apenas dois grupos baseados no tipo de célula tumoral e que a base da terapia era a quimioterapia convencional, com muitos efeitos colaterais e respostas modestas, para uma era onde cada vez mais temos individualizado o tratamento destes pacientes baseados em características moleculares e genéticas do tumor. O foco das discussões do dia foi o uso das terapias-alvo no câncer de pulmão e a escolha do perfil de pacientes que se beneficiam com o uso dessas drogas. Pacientes mesmo com doença metastática avançada e que têm o perfil para uso de alguma terapia-alvo, vivem mais quando recebem este tratamento do que quando recebem a quimioterapia convencional. O desafio, portanto, é fazer o diagnóstico correto. Os palestrantes do dia apresentaram dados de estudos mostrando a eficácia e o perfil de eventos adversos das diversas terapias-alvo já disponíveis, além de explanarem sobre novas drogas ainda em desenvolvimento e o que podemos esperar no futuro próximo do tratamento do câncer de pulmão. Como nos dias anteriores, no final, os especialistas de reuniram numa mesa de discussão com apresentação de casos clínicos de pacientes e com a participação dos médicos da plateia, que puderam fazer perguntas.