Embora o melanoma não seja o câncer de pele mais comum, ele representa cerca de 4% de todos os tumores de pele. É considerado um dos mais agressivos pela sua capacidade de espalhar-se para qualquer órgão do corpo rapidamente. Como se origina dos melanócitos – que são células da pele produtoras de melanina – geralmente suas lesões são enegrecidas, às vezes, muito parecidas com uma pinta normal.

Pelos dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são esperados mais de 6.000 casos novos de melanoma no Brasil em 2018, com cerca de 1.500 mortes relacionadas ao seu diagnóstico. Nos EUA, já é a quinta neoplasia mais comum nos homens.  Sua incidência é maior em adultos brancos, sendo um pouco mais comum nos homens em comparação com as mulheres e, diferente de outros tumores, sua incidência geral vem aumentando no mundo. O tratamento curativo deste tipo de tumor é a cirurgia para ressecção completa da lesão, quando o câncer não se disseminou.

Para os casos do melanoma metastático (quando o tumor já se espalhou para outros órgãos e a doença se torna mais agressiva), estamos vivenciando um “boom” de novas terapias com resultados excelentes. Até alguns anos atrás, o único tratamento para a doença avançada era a quimioterapia com muita toxicidade e com resultados pouco animadores, considerando que este tratamento não aumentava o tempo médio de vida dos pacientes.

Em 2009, pela primeira vez na história, um medicamento teve sua eficácia comprovada em estudos com pacientes portadores de melanoma avançado e aumentou o tempo de vida destes pacientes. Foi, também, a primeira vez que uma medicação do grupo das imunoterapias inibidores de Checkpoints mostrou benefício no tratamento do câncer. A droga foi o ipilumimab (Yervoy), aprovada pelo FDA, nos EUA, em 2011, e pela Anvisa, no Brasil, em 2012.

A imunoterapia age no nosso organismo fazendo com que o próprio sistema imunológico fique mais ágil e ativo contra o tumor. É como se o tumor ficasse mais “visível” ao sistema imune que começa a combatê-lo com mais força. Este tipo de medicação se mostrou eficaz no tratamento do melanoma e outras drogas que agem de forma semelhante já foram aprovadas e estão disponíveis no Brasil. É o caso da medicação nivolumabe (Opdivo) e pembrolizumabe (Keytruda). Mais recentemente, no final de 2017, tivemos a aprovação do uso combinado de duas drogas imunoterápicas: nivolumabe + ipilimumabe, que mostraram maior poder de ação quando usadas ao mesmo tempo, embora neste caso, com maiores efeitos colaterais.

Estas medicações vêm mudando a forma como vemos e tratamos o melanoma; são mais eficazes e, geralmente, menos tóxicas. Mas também trazem dois dilemas que agora precisam ser discutidos e enfrentados. O primeiro deles é o fato de que nem todos os pacientes vão responder à imunoterapia. Cerca de 20 a 25% dos pacientes terão excelentes respostas com diminuição e, em alguns casos, até desaparecimento do tumor e com respostas e benefício mantidos por longos períodos, chegando a vários anos. Mas, infelizmente, para cerca de 70% dos pacientes a resposta à imunoterapia será ruim e o desafio é saber – antes do início do tratamento – quem são os pacientes com maiores chances de responder à essas drogas.

O segundo desafio é o alto custo destas novas tecnologias, o que tem impactado diretamente no custo da medicina atual e justifica, até o momento, sua não disponibilidade no SUS (Sistema Único de Saúde). Portanto, quem trata melanoma no serviço público, ainda não tem acesso aos medicamentos.

Outro avanço importante no tratamento do melanoma aconteceu com o melhor entendimento genético da doença. Entendemos que, em algumas situações – como em pacientes jovens (com menos de 50 anos) – até em 50% dos casos de doença metastática, está presente uma mutação em um gene chamado BRAF. Desta forma, foram desenvolvidos medicamentos que funcionam desativando este gene.

Os medicamentos inibidores de BRAF, que são tratamentos orais, também se mostraram altamente eficientes para tratar o melanoma metastático com esta mutação. A diferença para a imunoterapia é que este tratamento só funciona para quem tem a mutação e geralmente as respostas, embora sejam rápidas, muitas fezes duram por menos tempo, em média de 13 a 15 meses. Os medicamentos (vemurafenib, dabrafenib, trametinib e cometinib) também não estão disponíveis no SUS, embora estejam todos aprovados pela Anvisa e alguns deles já sejam de uso obrigatório pelos convênios.

O fato é que avançamos muito no tratamento do melanoma metastático. Mas ainda temos campo e necessidade de avançar mais. As combinações e definições das melhores sequências de tratamento, provavelmente trarão melhores resultados nos próximos anos.  O tratamento de outros cenários como a “adjuvância” (tratamento realizado após cirurgia) na doença curativa também deverá mudar com o uso da imunoterapia e terapia-alvo anti-BRAF, impactando diretamente no maior número de pacientes curados.