O câncer de cabeça e pescoço abrange todos os tumores que têm origem na boca (cavidade oral), nariz (nasofaringe, cavidade nasal e seios paranasais), garganta (orofaringe, hipofaringe, laringe) e nas glândulas salivares. Apesar de pouco discutido é um câncer frequente no Brasil. Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelam que os tumores de cavidade oral são o quinto e os de laringe o oitavo cânceres mais frequentes no sexo masculino.
O fato do homem ser mais acometido está diretamente relacionado aos fatores de risco, sendo o tabagismo o principal deles. Esse hábito pode aumentar o risco de desenvolver o câncer em 5 a 25 vezes comparado aos não tabagistas. O segundo fator mais importante é o etilismo, aumentando o risco em até 6 vezes comparado aos não etilistas. Outros fatores conhecidos são as infecções virais pelo HPV relacionada com exposição sexual, dieta pobre em nutrientes, exposição ocupacional a produtos químicos como petróleo, plásticos, amianto e por fim síndromes genéticas.
O tratamento dessa neoplasia é dependente de muitas variáveis: localização e tamanho do tumor, presença de metástases, desejo do paciente e acesso as técnicas disponíveis. Diante de todos esses detalhes se faz necessário o tratamento através de uma equipe multidisciplinar (cirurgião, oncologista, radioterapeuta, dentista, psicóloga, nutricionista, fonoaudióloga e fisioterapeuta).
A cirurgia e a radioterapia são as opções de tratamento do tumor em fase inicial. Já em tumores maiores ou com disseminação para os linfonodos do pescoço, pode ser associada a quimioterapia. Essa forma de tratamento ganhou destaque na mídia brasileira em 2011 quando o ex presidente Lula foi diagnosticado com câncer de laringe. O tumor estava localizado próximo a corda vocal e caso a cirurgia fosse realizada não seria possível preservar a sua voz. Diante dessa complicação, a estratégia utilizada foi a técnica de preservação de laringe, na qual inicia-se quimioterapia por um período de 2 meses, seguido de radioterapia associado a quimioterapia. Conforme presenciamos, o objetivo desejado foi atingido, a cura do tumor com a manutenção da voz.
Em relação ao paciente que apresenta tumor com recidiva ou metástases (disseminação para outras partes do corpo), o tratamento é realizado com quimioterapia isolada ou associada a um anticorpo chamado cetuximabe. Essa combinação permitiu o aumento no tempo de vida dos pacientes comparado à quimioterapia isolada. No entanto, essa estratégia de tratamento não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
A maior novidade no tratamento do câncer de cabeça e pescoço foi a aprovação da imunoterapia pela ANVISA em dezembro de 2017. Estes medicamentos estimulam o sistema imune a combater as células tumorais. Sua ação ocorre por bloquear a inibição das células de defesa (linfócitos), permitindo assim que estas reconheçam e destruam as células tumorais. A imunoterapia aprovada foi o nivolumabe, indicada para pacientes que apresentam progressão do tumor durante ou após o tratamento com quimioterapia inicial a base de platina. O estudo que levou a aprovação dessa medicação demostrou aumento de tempo de vida dos pacientes em 2 meses.
Sendo assim, tornam-se cada vez mais evidentes os avanços no tratamento do câncer de cabeça e pescoço. Eles têm permitido maiores chances de cura, preservando a funcionalidade dos órgãos e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Apesar dessa evolução a melhor estratégia continua sendo a não exposição aos fatores de risco, mantendo um estilo de vida saudável e com acompanhamento médico para um possível diagnóstico precoce.