O câncer de ovário é um tema de extrema importância na saúde da mulher. O Instituto Nacional do Câncer estimou 6150 casos novos de câncer de ovário no Brasil em 2018, sendo a oitava causa de morte por câncer na mulher. Felizmente, o tratamento dessa neoplasia vem avançando nos últimos anos e, para acompanharmos essas atualizações, participamos no mês passado de um programa de educação médica continuada sobre esse tipo de câncer na Universidade de Navarra em Madri, Espanha.

Alguns conceitos antigos continuam sólidos, relacionados as maiores chances de cura com o diagnóstico precoce. A decisão de qual tratamento realizar depende do estágio da doença. Nos tumores restritos aos ovários ou mesmo com disseminação para os órgãos pélvicos a cirurgia continua sendo a base do tratamento, seguido de quimioterapia. Vale ressaltar que a cirurgia deve ser realizada por um cirurgião capacitado nesse procedimento. Um estudo americano revelou aumento de 30% nas chances de cura quando o procedimento é realizado por um profissional especialista nessa cirurgia. Já nos pacientes que o tumor compromete de forma extensa os órgãos abdominais ou existe a presença de grande quantidade de liquido, chamado de ascite, o tratamento pode ser iniciado com quimioterapia para reduzir o tumor e após realizar a cirurgia.

Por ser considerada uma doença silenciosa, com sintomas aparecendo em fases avançadas, é frequente a presença de metástases e recidivas após o tratamento inicial. Neste cenário, algumas estratégias de tratamento, além da tradicional quimioterapia, demostraram resultados positivos. Como opções temos a utilização de um anticorpo que inibe a formação dos vasos sanguíneos no tumor, os inibidores da angiogênese, que retardam o seu crescimento. A medicação aprovada é o bevacizumabe, indicada para pacientes com tumores de ovários epiteliais com metástases ou recorrentes, revelando aumento significativo de sobrevida livre de progressão do tumor.
Outra estratégia que foi incorporada mais recentemente são os inibidores de PARP, medicamentos ingeridos via oral, que mostraram resultados expressivos. As enzimas PARP estão relacionadas com via de reparo do DNA danificado e sua inibição pode causar a morte de células tumorais. Sabe-se que o gene BRCA também está relacionado com a via de reparo do DNA, sendo assim o uso dos inibidores de PARP em pacientes com a mutação deste gene revelou resultados ainda mais significativos.

Atualmente nos Estados Unidos existem 3 opções de inibidores de PARP para o tratamento do câncer de ovário: olaparibe, niraparibe e o rucaparibe. No Brasil temos disponível apenas o olaparibe, aprovado pela ANVISA em janeiro de 2017, indicado para tratamento de manutenção do câncer de ovário de alto grau recidivado, com mutação do BRCA, que apresentou resposta ao tratamento com quimioterapia a base de platina. Pacientes com essas características foram avaliados no estudo SOLO-2, que revelou ganho significativo em sobrevida livre de progressão de 19,1 meses versus 5,5 meses para pacientes tratados com olaparibe versus placebo. É importante ressaltar que os efeitos colaterais do tratamento são bem tolerados.

Como perspectivas futuras temos estudos avaliando a associação de tratamentos com imunoterapia com resultados possivelmente promissores. Esses avanços, associados ao tratamento com uma equipe multidisciplinar qualificada, estão propiciando um aumento nas chances de cura e na qualidade de vida dos pacientes.