Setembro de 2017
Talvez uma das perguntas mais frequentes feitas pelos pacientes com diagnóstico e em tratamento de um câncer é se realmente o açúcar alimenta o tumor. E a resposta nem sempre é tão simples . As evidências são controversas e frágeis para poder, de forma categórica, afirmar que sim.
Sabemos que alguns tipos de alimentos, como gorduras, frituras e defumados estão associados a um maior risco de desenvolvimento de alguns tumores como intestinais e estômago. Também sabemos que a obesidade aumenta o risco de desenvolver vários tipos de neoplasias. Mulheres com diagnóstico de câncer de mama que não fazem atividade física, são obesas, tem dietas mais desbalanceadas tem resultados comprovadamente piores. Mas a ideia de que o açúcar refinado (como o encontrado nos doces, bolos e guloseimas) “alimenta o tumor” é simplória e não traduz a total realidade.
O açúcar refinado (sacarose) que usamos no dia a dia é quebrado no nosso organismo em glicose e frutose. Todas as células do nosso corpo precisam de glicose para sobreviver e as células cancerígenas, por se multiplicarem mais rápido, precisam de mais energia e portanto mais glicose. Mas é importante entendermos que todo e qualquer tipo de carboidrato da alimentação vai se transformar em glicose no nosso organismo e não apenas o açúcar refinado. Alimentos considerados saudáveis como beterraba e cenoura, por exemplo ,também são ricos em glicose.
O nosso corpo não pode viver sem glicose, pois é ela quem fornece a energia necessária as funções básicas das células, sejam elas normais ou cancerígenas. E mesmo que o paciente se prive da ingestão de açúcar, o tumor provavelmente vai conseguir a glicose que ele precisa ,para manter sua atividade, nem que para isso, ele use as reservas do nosso corpo. Esse é um dos motivos dos pacientes perderem peso tão rápido. Além disso, restrições dietéticas muito severas podem até fazer o paciente ficar mais fraco e debilitado.
Mas, certamente, uma alimentação exagerada em açúcar não é a mais adequada para o paciente em tratamento de um câncer e nem mesmo para a população em geral. Dietas ricas em carboidratos e doces, aumentam os níveis de insulina no organismo, um hormônio que esta associado a maior proliferação celular. Além disso, a quimioterapia pode causar um descontrole do metabolismo , aumentando os níveis de glicose no sangue por conta do uso de corticoides e soros glicosados para diluição da medicação.
Portanto, o mais sensato e adequado é ter uma dieta balanceada, sem privação de nenhum tipo de alimento, permitindo que o paciente também satisfaça os seus desejos, sem exageros. Como tudo na vida , o equilíbrio é sempre o melhor caminho. Proibir a ingestão de açúcar não parece ser o essencial para o tratamento ter melhores resultados , mas seu uso em excesso, certamente, trará malefícios que devem ser evitados.
Por fim , é muito difícil , comprovar em estudos o real impacto que alguns componentes da alimentação tem no desenvolvimento e depois propagação do câncer , visto as diferentes variáveis que podem influenciar nesse processo, porém, mais estudos bem desenhados e conduzidos precisam ser realizados para tentar demonstrar a real participação do açúcar no câncer. Até o presente momento, nenhum estudo conseguiu comprovar de forma direta que a ingestão de açúcar refinado está associado ao desenvolvimento ou aumento do tamanho de um tumor.
Ter um nutricionista acompanhando a alimentação balanceada do paciente com câncer é o que hoje recomendamos.
5 Comentários
Adorei todas as matérias publicadas……textos bem escritos e com linguagem fácil de se entender…além de muito esclarecedoras…. PARABENS A TODOS OS MEDICOS ENVOLVIDOS….
Ficamos felizes em atingir nosso objetivo em levar medicina de maneira mais clara.
Obrigada
Que bom que encontrei seu site. Conteúdo muito bom. Abraço e sucesso
Meus caros. Existe uma nova hipótese que explica o estresse e o açúcar entre os fatores de risco para o cancer. O artigo (originalmente publicado em inglês) escrito por Carlos ETB Monteiro é intitulado: “O estresse como o Fator Indutivo para o aumento da produção de lactato: o caminho evolutivo para a carcinogênese”. Positive Health Online, Edição 241, Outubro, 2017 em http://www.positivehealth.com/article/cancer/stress-inductive-factor-for-increased-lactate-production-evolutionary-path-to-carcinogenesis
Sumário
No presente artigo é discutido sobre a evolução recente na compreensão do papel da formação de lactato na promoção do câncer. Nele postula-se a hipótese de que o estresse crônico é o principal fator de risco e indutor do aumento da produção de lactato que pode levar ao processo cancerígeno. Também explica como o estresse desenvolve a formação de lactato, o que foi descoberto em 1925.
A hipótese atual suporta dietas cetogênicas para prevenção e terapia do câncer. Isto dentro do raciocínio de que, enquanto as gorduras não têm efeitos apreciáveis no sistema nervoso simpático (SNS) ou na formação de lactato, dietas ricas em carboidratos têm efeitos significativos no SNS e na formação de lactato.
No final desse artigo, há uma breve explicação e link para o artigo paralelo onde são discutidos os glicosídeos cardíacos (ex: digitálicos – digoxina, etc) como os medicamentos fundamentais para prevenção e tratamento do câncer.
Agradecemos o comentário.
No entanto, o artigo apenas apresenta hipóteses, baseadas em alguns pressupostos não comprovados. Mais provável é que o lactato seja um marcador de atividade tumoral, definindo inclusive pior prognóstico, porém sem nenhuma relação causal.
Sabe-se que sedentarismo, obesidade e dietas ricas em gorduras e proteínas animais estão associadas a um maior risco de câncer, de uma maneira geral. E há evidências com razoável confiabilidade sugerindo que o estímulo a atividades físicas, vida saudável e dieta equilibrada são fatores protetores.
No entanto, sustentamos que não há nenhuma evidência de que a dieta cetogênica traria qualquer benefício. Ao contrário, estudos pré-clínicos sugerem não haver impacto positivo.