Como dito na música eternizada, composta por Roberto e Erasmo Carlos, em 1964, mais do que nunca, no ano de 2020, “é proibido fumar” ou, pelo menos, deveria. O cigarro tem o título de maior causador de mortes evitáveis no mundo e são cerca de 7,5 milhões de mortes por ano. Além disso, o cigarro é o principal responsável pelo aparecimento do câncer de pulmão, neoplasia que, sozinha, mata mais que o câncer de próstata, mama e intestino juntos. São mais de 1,8 milhão de casos por ano ao redor do globo. E novembro é lembrado como o mês de conscientização do câncer de pulmão, o chamado Novembro Branco.

O câncer de pulmão é o segundo mais comum entre homens e o quarto entre as mulheres. No Brasil, mas é o câncer que mais mata. No mundo, desde 1985, é o câncer mais mortal. Ele é responsável por 13% de todos os casos novos de câncer no planeta. E seu aparecimento está diretamente relacionado ao hábito de fumar. Quem fuma tem 60 vezes mais risco de desenvolver câncer de pulmão em comparação com quem não fuma, além de maior risco de outros tumores como cabeça e pescoço, bexiga e trato gastrointestinal.

Cerca de 90% dos diagnósticos de câncer de pulmão são em pessoas tabagistas ou ex-tabagistas, além de um número considerável em pessoas que nunca fumaram mas convivem de perto com quem fuma, os chamados tabagistas passivos.  São mais de 4.800 compostos químicos em um único cigarro, dentre os quais mais de 70 são sabidamente cancerígenos.

Ainda com relação ao câncer de pulmão, 15% de quem fuma deverá desenvolver esse tipo de câncer em algum momento da vida.  Ainda hoje, cerca de 80% dos tumores de pulmão são descobertos em fases avançadas, com metástases, quando o câncer já se espalhou pelo corpo e a chance de cura é muito baixa, com mais 1,6 milhão de mortes ao ano.

Por isso, tornou-se essencial discutirmos cada vez mais e alertar a população para os riscos desse tipo de câncer. O Novembro Branco marca o mês de conscientização sobre o câncer de pulmão. Esse mês, já amplamente conhecido pela cor azul, relacionado ao câncer de próstata, também traz o laço branco como símbolo para lembrar a neoplasia mais mortal de todas.

O câncer de pulmão, geralmente nas fases iniciais, é silencioso e pode não causar sintoma algum. À medida que cresce, pode provocar tosse, expectoração com sangue, falta de ar e cansaço, dores nas costas, perda de apetite e peso e inchaço no pescoço. O maior problema é que a maioria dos diagnósticos são feitos quando a doença já se espalhou pelo corpo e as chances de cura são baixas. Mas, diferente do câncer de próstata, cujo maior fator de risco é a idade e muitas vezes não pode ser evitado e, portanto, o foco está no diagnóstico precoce, o câncer de pulmão é, na quase totalidade, evitável uma vez que é associado ao tabagismo. Dessa forma é importante alertar para a necessidade de interromper o hábito de fumar, o grande responsável por esse mal.

Embora o Brasil, ao lado da Turquia, tenha alcançado excelentes resultados nos últimos anos no combate ao tabagismo, com uma redução expressiva no número de tabagistas – graças a medidas como o aumento de impostos sobre os cigarros, que chegaram a 83% em 2018, a proibição de  propagandas em televisão e revistas, a obrigatoriedade de se estampar as embalagens de cigarro com fotos e frases que mostrassem os efeitos devastadores do vício e, por fim, a proibição do fumo em locais fechados de uso coletivo – ainda temos cerca de 10% da população fumante ativa, o que representa mais de 20 milhões de tabagistas .

Ocupamos a oitava posição no ranking da OMS dos países com maior número absoluto de tabagistas. Além disso, dados mais recentes e extremamente preocupantes, mostraram que durante a pandemia de COVID-19, as pessoas passaram a fumar e beber mais, reflexo do maior tempo de confinamento em casa sob altos níveis de estresse e ansiedade, o que certamente trará impactos importantes na saúde, em um futuro breve. Também foi publicada recentemente uma pesquisa que mostra que pacientes com câncer de pulmão que se infectam com vírus da COVID-19 tem altas chances de morrer: cerca de 30%.

A nicotina contida no cigarro atinge rapidamente o cérebro e em menos de 10 segundos libera vários neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar e prazer, como a dopamina. Por isso, o cigarro é tão viciante e um hábito difícil de abandonar.  Daquelas pessoas que querem deixar o vício, menos de 5% tem sucesso sem ajuda de um profissional. Então, geralmente não basta querer parar o vício, é preciso ajuda de psicólogos, psiquiatras e uma rede de apoio

Estima-se que um terço da população adulta mundial seja tabagista, principalmente em países como China, Rússia e em países europeus. Destes, acredita-se que 60% desejem parar de fumar, mas não conseguem e não têm assistência para isso. Além disso, o hábito começa cedo, geralmente antes dos 20 anos, o que mostra a importância de orientar e alertar os jovens para os danos causados pelo tabaco.

Além do cigarro, existem os charutos, cachimbos, cigarros de palha, narguilés e mais recentemente os cigarros eletrônicos. Algumas pessoas defendem esses últimos, alegando ser menos prejudicial. No entanto, isso não é verdade. O uso de cigarro eletrônico vem crescendo no Brasil (onde a comercialização é proibida) e no mundo.  Em 2018, mais de 3,5 milhões de estudantes do ensino médio, nos EUA, disseram já ter experimentado o cigarro eletrônico. Seus efeitos deletérios ainda não são completamente conhecidos, mas o Centro de Controle de Doenças dos EUA divulgou, em 2019, várias mortes associadas diretamente ao uso do cigarro eletrônico. Sua relação com o câncer de pulmão ainda não está totalmente comprovada, uma vez que os cigarros eletrônicos são de uso recente, porém é altamente provável que possa existir uma conexão

É importante dizer que para os casos avançados de câncer de pulmão, quando já existem metástases, os tratamentos mais novos com as chamadas terapias-alvo (que funcionam inibindo alguns genes que podem estar alterados no DNA das células) e a imunoterapia (que ativa o sistema imunológico contra o tumor) têm alcançado resultados extraordinários, tanto no aumento expressivo no tempo de vida quanto na qualidade de vida desses pacientes. Esses medicamentos estão revolucionando a Oncologia e trazendo novas perspectivas. De toda forma, infelizmente, são remédios caros e na maioria das vezes não disponíveis no SUS, o que limita o seu uso em uma grande parcela da população.

Que no Novembro Branco a sociedade tente “apagar” o cigarro da vida das pessoas e possa respirar ares mais saudáveis.