Há 224 anos, um médico inglês injetava pus de uma vaca com varíola bovina em uma criança de 8 anoshttps://academic.oup.com/annonc/issue/30/Supplement_4?page=3#905486-5529524. Dois meses depois, injetava na mesma criança secreção com varíola humana. O menino sobreviveu. Assim – e com a contribuição de vários cientistas anteriormente – foi “inventada” a técnica para a primeira vacina. E isso mudou o mundo.

O ato de vacinar é importante para a pessoa vacinada – claro – mas devemos nos lembrar também que é uma questão de saúde pública. O freio da contaminação por doenças infecciosas reduz a mortalidade da população em geral, principalmente daqueles considerados como grupos de risco. Inclusive, existem pessoas que não podem ser vacinadas por alguma doença que contraindica, ou que ainda não têm idade (recém-nascidos); essas pessoas talvez sejam as mais beneficiadas pela vacinação em massa de quem pode.

As vacinas protegem contra a ocorrência de diversas doenças infecciosas, desde a poliomielite, que pode deixar pessoas sem movimentos, até a pneumonia, que pode levar pessoas, principalmente idosos, à morte. Não só isso, temos também as vacinas que podem prevenir o câncer, no caso, a do HPV evita tumor de colo do útero. Muitas das patologias foram erradicadas, como a varíola e a poliomielite, enquanto outras – como a gripe, o tétano e a coqueluche – tiveram seu impacto na saúde da população consideravelmente reduzido (>90%).

Criado há 47 anos, o Programa Nacional de Imunização do Brasil é uma das referências mundiais da área, principalmente por sua universalidade, ou seja, a capacidade que tem de atingir a quase totalidade da população do país. Além disso, estimula uma indústria interna de alta tecnologia, com mais de 90% das vacinas sendo produzidas nacionalmente.

E, no dia 17 de outubro, é realizado o Dia Nacional da Vacinação (ou Dia D), uma data de extrema importância, não só pelos benefícios das vacinas, mas também para o combate às notícias falsas, que têm recriado um movimento antivacina, que é altamente letal e coloca em risco a vida de muitas pessoas.

Nos últimos anos, temos visto uma redução da cobertura vacinal, muito em consequência do movimento antivacina, levando ao reaparecimento de casos de sarampo, por exemplo. Porém, agora temos um agravante: a pandemia de coronavírus. A situação atual reduziu a vacinação no país de forma considerável e, por isso, é ainda mais importante o dia 17.

O Dia D está inserido dentro da Campanha Nacional de Vacinação, que visa atualizar o calendário vacinal das crianças de até 15 anos e conscientizar a população, incluindo adultos e idosos, sobre a necessidade de atualização das suas vacinas. Mais de 40 mil postos de saúde participarão do evento.

Atualmente, são 18 as vacinas disponibilizadas para crianças e adolescentes. A da poliomielite já é velha conhecida, com a mudança nos últimos anos de incluir não só a do “zé gotinha”, mas também a injetável. A ausência de casos desde 1990 é uma vitória e deve ser mantida a todo custo. A do sarampo, incluída na tríplice viral, é de grande importância, já que surtos de sarampo têm ocorrido nos últimos anos no país. Mais recentemente, a vacina contra o vírus HPV entrou no calendário brasileiro para meninas e meninos. Entretanto, a abrangência está longe do esperado e isso preocupa, pois o câncer de colo de útero é um dos mais incidentes no nosso país e atinge muitas mulheres jovens, podendo levar à morte.

Num momento em que todos têm comentado (e desejado) a vacina contra a COVID-19, tão ou mais importante é garantir que a vacinação contra doenças que já são comprovadamente prevenidas seja feita de forma ideal. Por isso, vamos participar desse movimento, sempre com responsabilidade de respeitar as regras de higiene, com distanciamento social, lavagem das mãos e uso de máscara, afinal, a pandemia de COVID-19 ainda mata mais de 500 pessoas por dia no nosso país. Não precisamos que outras 500 (ou mais) morram por doenças facilmente evitáveis.