Novas recomendações e evidências na área da nutrição também tiveram destaque na ASCO 2020, temas importantes como sarcopenia, microbiota intestinal e manejo da caquexia foram apresentados. Roeland et al, coletaram evidências sobre nutrição, farmacologia e exercícios em 20 revisões sistemáticas e 13 ensaios clínicos randomizados de 1966 a 17 de outubro 2019 para reformular as recomendações atuais no manejo da caquexia do câncer avançado.

A caquexia é uma síndrome multifatorial caracterizada por perda de apetite, peso e músculo esquelético, levando a fadiga, comprometimento funcional, aumento da toxicidade relacionada ao tratamento, baixa qualidade de vida e sobrevida reduzida. Pacientes em tratamento oncológico tem alta prevalência de caquexia, afetando aproximadamente metade dos pacientes com câncer avançado. A avaliação e o manejo da caquexia do câncer são grandes desafios.

As definições de caquexia do câncer mudaram ao longo do tempo. A mais recentemente, de 2011, publicada no consenso Delphi, define provisoriamente a caquexia do câncer como perda de peso maior que 5% nos 6 meses anteriores ou 2% a 5% de perda de peso com um índice de massa corporal (IMC) de 20 kg/m2 ou redução de massa muscular. Ainda segundo o consenso internacional, a caquexia do câncer pode ser categorizada em três fases: pré-caquexia, caquexia e caquexia refratária. O risco de progressão depende de fatores como tipo de câncer, estágio, ingestão de alimentos, presença de inflamação sistêmica, inatividade, falta de resposta ou complicações terapia anticâncer e/ou sequela de cirurgia

Vários fatores contribuem para a fisiopatologia complexa da caquexia do câncer. O objetivo de identificar e tratá-la é melhorar a tolerabilidade ao tratamento, a sobrevida e otimizar a qualidade de vida de pacientes com câncer avançado. Por meio de 20 revisões sistemáticas e 13 ensaios clínicos randomizados, o artigo pretende fornecer recomendações baseadas em evidências para o tratamento da caquexia do câncer. Estas se concentram em três campos centrais de melhora do peso, massa corporal magra, apetite, função ou qualidade de vida: intervenções nutricionais, intervenções farmacológicas e outras intervenções (por exemplo, exercício).

Intervenções Nutricionais

As intervenções nutricionais levantadas pelos autores na pesquisa bibliográfica são de avaliação aconselhamento dietético, uso rotineiro de terapia nutricional enteral (TNE) e parenteral (TNP), suplementação com ômega 3, vitaminas, minerais e outros suplementos. 48% dos pacientes em tratamento oncológicos buscam alternativas alimentares para auxiliar no tratamento, assim o acompanhamento com nutricionista faz-se necessário para orientar e proteger o paciente e seus familiares quanto ao uso de suplementos alimentares, dietas da moda ou dietas restritivas e ajudar na compreensão das necessidades do paciente neste momento. Da pesquisa duas recomendações são formalizadas:

  • Encaminhamento ao nutricionista para avaliação e aconselhamento, fornecendo aos pacientes e cuidadores orientações práticas e seguras sobre alimentação, oferta proteica, oferta calórica e recomendações de dietas não comprovadas ou restritivas. Tipo de recomendação: consenso informal. Qualidade evidência: baixa. Força recomendação: moderada.
  • TNE e TNP não devem ser utilizadas como rotina no manejo da caquexia do câncer em paciente com doença avançada, salvo em casos de obstrução reversível do intestino, síndrome do intestino curto ou má-absorção por curto período. É apropriada a interrupção de TNE e TNP antes do final de vida. Tipo de recomendação: consenso informal. Qualidade evidência: baixa. Força recomendação: moderada.

Intervenções farmacológicas

Foram associadas melhorias no apetite e/ou peso corporal as intervenções farmacológicas com análogos de progesterona e corticosteróides. Na ausência de evidências mais robustas, nenhuma intervenção farmacológica específica pode ser recomendada como padrão de atendimento, portanto, os médicos podem optar por não prescrever medicamentos especificamente para o tratamento da caquexia do câncer

Outras intervenções

Estudos relacionados à prática de exercícios físicos avaliados não tiveram benefício ou evidência insuficiente para conclusões sobre eficácia. As limitações da evidência incluem altas taxas de desistência devido ao estágio da doença, variabilidade entre estudos sobre resultados de interesse e métodos para avaliação. Sendo assim, fora do contexto de um ensaio clínico, nenhuma recomendação pode ser feita para outras intervenções, como exercícios físicos.

Estudo futuros com o objetivo de identificação precoce do risco de desnutrição (por vários meios, como composição corporal da tomografia computadorizada, histórico de perda de peso e/ou dados obtidos de um histórico detalhado da dieta) podem eleger grupos específicos de pacientes que se beneficiariam de intervenções precoces. Tais intervenções podem incluir ações nutricionais e/ou farmacológicas lideradas por nutricionistas. Os objetivos dessa pesquisa poderiam melhorar o estado nutricional em todas as fases do tratamento, para ajudar a garantir que indivíduos com câncer avançado não fiquem tão esgotados nutricionalmente quanto poderiam ter ficado sem intervenção, visando melhora da qualidade e quantidade de vida nessa população

 

Fonte: Roeland et al. Management of Cancer Cachexia: ASCO Guideline. Disponivel em ascopubs.org/journal/ jco on May 20, 2020: DOI https://doi.org/10. 1200/JCO.20.006.