Abril é o mês de conscientização e prevenção do câncer de cabeça e pescoço. Apesar de pouco discutido na mídia, merece um lugar de destaque por representar o quarto câncer mais frequente nos homens brasileiros. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 11.200 novos casos de câncer de cavidade oral e 6.470 de câncer laringe para o ano de 2020. Ainda mais impactante que esse dado é imaginar que a grande maioria desses casos poderiam ser evitados pela não exposição aos fatores de risco. A resposta parece simples, porém na prática é um desafio a ser alcançado.

Quando falamos do câncer de cabeça e pescoço nos referimos a todos os tumores que têm origem na boca (cavidade oral), nariz (nasofaringe, cavidade nasal e seios paranasais), garganta (orofaringe, hipofaringe, laringe) e nas glândulas salivares. A agressão contínua desses tecidos pelos fatores de risco causa alterações celulares podendo precipitar o câncer.

Os fatores de risco para o desenvolvimento desta neoplasia já são bem estabelecidos. O principal é o tabagismo. O risco é dependente do número de cigarros fumados por dia e do tempo de uso. Os tabagistas têm o risco de desenvolver câncer de 5 a 25 vezes mais do que os não fumam. Nesse contexto o cigarro não é o único vilão, o cachimbo e o hábito de mascar fumo ou tabaco também estão comprovadamente associados a um risco aumentado de câncer de boca e faringe.

É importante destacar que o uso de narguilé, uma espécie de cachimbo de água no qual o tabaco aromatizado é queimado e aspirado por uma mangueira até a boca, também é potencialmente um risco. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), consumir uma rodada do Narguilé é equivalente a fumar 100 cigarros.

O etilismo é o segundo fator de risco mais importante. Também está relacionado com a quantidade ingerida durante a vida. Um estudo revelou o aumento de 5 a 6 vezes no risco de desenvolver o câncer de cabeça e pescoço com consumo de álcool superior a 50 g/dia versus menos de 10 g/dia (aproximadamente uma lata de cerveja).

O terceiro fator que ganha cada vez mais importância é a infecção pelo vírus HPV. Esse vírus é o mesmo relacionado ao câncer de colo de útero, vagina, vulva, anus e pênis. Dentre os 150 subtipos, o mais relacionado ao câncer de cabeça e pescoço é o subtipo 16, sendo a orofaringe (garganta) o local mais acometido. Dados norte-americanos revelam que 70 a 80% dos casos de câncer de orofaringe está relacionado ao HPV. Diferentemente dos outros fatores de risco, ele é responsável por câncer em pacientes mais jovens e sem hábito de tabagismo e etilismo.

Sabemos que esses tumores relacionados à infecção pelo vírus apresentam uma melhor resposta ao tratamento. Outra boa notícia é que a vacinação contra o HPV confere proteção contra esse tipo de câncer. No Brasil, as indicações para a vacinação de acordo com o Ministério da Saúde são o grupo de meninas dos 9 aos 14 anos e de meninos dos 11 aos 14 anos.

Concluindo, curar todos os casos de câncer de cabeça e pescoço ainda não é possível, porém evitar o cigarro, o etilismo e incentivar a vacinação contra HPV podem prevenir a maioria dos casos. Vamos aproveitar o mês de abril para iniciar um estilo de vida saudável e atingir nosso desafio de reduzir a nossa estatística contra o câncer de cabeça e pescoço.