A saúde bucal é sempre um assunto que merece muita atenção; entretanto, ela é ainda mais importante quando falamos de pacientes com câncer, que requerem cuidados especiais para manter sua qualidade de vida e bem-estar.

A quimioterapia e a radioterapia atuam por meio da inibição ou destruição de células, não diferenciando precisamente as células neoplásicas das células normais. Dessa forma, há uma maior chance de surgimento de efeitos colaterais.

As manifestações ou complicações mais frequentes são: mucosite, candidose, xerostomia, cárie de radiação, disgeusia, perda do paladar, trismo muscular, alterações vasculares e osteorradionecrose.

Muitos pacientes imunossuprimidos por quimioterapia, no intervalo de 7 a 15 dias depois de iniciado o tratamento, apresentam risco de desenvolvimento de lesões bucais dentárias ou periodontais, relacionadas aos focos odontogênicos preexistentes. Em pacientes que recebem quimioterapia mielossupresiva, com os efeitos adversos mais comuns representados por neutropenia (imunidade comprometida, que deixa o paciente mais susceptível a infecções) e trombocitopenia (podendo ocorrer sangramento gengival, até mesmo espontaneamente, devido à baixa produção de plaquetas).

Comumente, pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço apresentam efeitos colaterais relacionados ao tipo e à dose de radiação, duração do tratamento, localização da lesão, volume de tecido irradiado e fatores predisponentes do paciente, como nível de higiene, focos de infecção, uso preexistente de fumo e álcool. Complicações dentais e orais são comuns entre esses pacientes, incluindo desfiguração facial, disfunção crônica das glândulas salivares e trismo.

A xerostomia é quando a boca fica excessivamente seca. Isso acontece devido às alterações nas glândulas salivares, causadas principalmente pela radioterapia. Com a ausência do efeito protetor da saliva, pode ocorrer mau hálito e aumento da ocorrência de cáries, deixando a mucosa mais vulnerável a infecções.

Outras consequências da xerostomia são a atrofia das papilas da língua, inflamação e fissuras, resultando em sensibilidade, ardência e dor. Pode haver complicações na gengiva e, em casos extremos, a perda de dentes, além da dificuldade de utilização de dentaduras e incômodos com aparelhos protéticos.

Já a mucosite é uma condição ulcerativa difusa que se manifesta não somente na boca, mas em todo o trato gastrointestinal. Suas lesões extremamente dolorosas podem dificultar ou impedir que o paciente consiga ingerir alimentos sólidos e, em casos extremos, até mesmo a água.

Alguns agentes modificadores ósseos – bifosfonados – prescritos para a prevenção de eventos ósseos em pacientes com metástases ósseas, apresentam risco de causarem osteonecrose de mandíbula.

É aconselhável que todo paciente com diagnóstico de câncer seja encaminhado para uma avaliação odontológica antes de iniciar o tratamento, particularmente se o tratamento for para câncer de cabeça e pescoço ou se for prevista uma imunossupressão profunda e prolongada. O objetivo primário é a identificação de qualquer infecção dentária em atividade para que possa ser tratada em definitivo antes de iniciar o tratamento quimioterápico. Isto é especialmente importante para pacientes de alto risco e com indicação de extração dentária, pois é um fator de risco bem conhecido para complicações, incluindo infecções e osteonecrose de mandíbula em pacientes em uso de bifosfonados e osteonecrose devido à radioterapia de cabeça e pescoço.

Em adição, screening e aconselhamento dentário (uso correto do fio dental, técnicas de escovação, características das cerdas das escovas, uso de enxaguatórios sem álcool, utilização de substâncias que aumentem o fluxo salivar ou saliva artificial para tratamento de xerostomia e limpeza de aparelhos protéticos, laserterapia para mucosite) reforçarão a importância da higiene oral e da manutenção da cavidade oral livre de infecção, que reduzem – consequentemente – o risco de desenvolver infecção localizada e sistêmica durante períodos previstos de neutropenia.

O importante é saber que é possível prevenir e controlar cada um desses sintomas e a principal ferramenta para isso é a manutenção rigorosa da higiene bucal e o cuidado odontológico antes, durante e após as terapias para o câncer. O trabalho multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento oncológico. Logo, o tratamento odontológico, proporcionará mais conforto e bem-estar durante as diversas fases do tratamento, podendo impactar positivamente na qualidade de vida do paciente.