Câncer de cérebro não é uma doença frequente. Corresponde a aproximadamente 2% dos cânceres. No entanto, pode ser potencialmente grave, já que atinge um órgão fundamental no controle das funções essenciais do corpo.  O Grupo SOnHe convidou o neurocirurgião Victor Vasconcelos, para dar alguns esclarecimentos sobre o câncer de cérebro. A entrevista segue abaixo.

O que é câncer de cérebro?

Os tumores cerebrais podem surgir das células do próprio sistema nervoso, sendo – nesses casos – considerados tumores primários. Podem advir também de tumores preexistentes em outros órgãos do corpo, quando são secundários ou metástases cerebrais, e podem ser diferenciados entre benignos ou malignos. No primeiro caso, são lesões que têm o crescimento lento, podem causar sintomas com evolução gradual e, frequentemente, podem ser acompanhados por exames de imagem periódicos ou tratados com cirurgia. Já o crescimento dos tumores malignos é mais acelerado, tendem a causar mais sintomas e geralmente demandam de tratamento cirúrgico associado às demais modalidades de tratamentos complementares, como quimioterapia e radioterapia.

Quais são os fatores de risco do câncer no cérebro?

São fatores de risco comprovados: exposição à radiação, quadros de diminuição da imunidade, como em paciente portadores de Aids ou em uso de medicações que diminuem as defesas do corpo e algumas doenças genéticas raras, como neurofibromatose e Síndrome de Li-Fraumeni.  Pacientes com câncer em outras partes do corpo têm maior chance de apresentar tumor metastático no cérebro, em especial em casos de câncer de pulmão, de mama, melanoma e de rim. O uso de aparelho celular vem sendo bastante estudado como fator de risco para surgimento de tumores, entretanto sua associação ainda não está comprovada.

Quais são os sintomas ou sinais de alerta?

Os sintomas do câncer cerebral são muito variados, já que diversas áreas cerebrais com funções diferentes podem ser acometidas. Geralmente, os sintomas podem decorrer da compressão ou da invasão que o tumor causa sobre as estruturas cerebrais ou de distúrbios hormonais causados pela lesão, como nos tumores da glândula hipófise.  A dor de cabeça é o sintoma mais comum, surgindo entre 33% a 71% dos doentes. No entanto, nem todo quadro de cefaleia é sugestiva de tumor cerebral; se for um sintoma diário e persistente ao longo de dias, com intensidade crescente e mais comum à noite ou ao acordar, é sinal de alerta. E deve ser investigada especialmente quando é acompanhada de demais sinais e sintomas como como vômitos recorrentes, crises epilépticas, sonolência excessiva, confusão mental, deficiência gradual da movimentação ou da sensibilidade de alguma parte do corpo e dificuldades de fala e da visão.

Como é feito o diagnóstico? Há meios de prevenção ou rastreio?

Atualmente não existe comprovação de benefício de exames preventivos de rotina, como recomendados no câncer de mama, próstata ou de intestino. Os tumores geralmente são diagnosticados em pacientes com sintomas neurológicos persistentes, sem causa aparente ao realizarem avaliação neurológica específica ou em pacientes sem sintomas neurológicos que investigam outras queixas. Estudos radiológicos, preferencialmente ressonância de crânio com contraste, são capazes de identificar lesões, mas o diagnóstico definitivo necessita de uma biópsia, já que outras doenças de origem inflamatória ou infecciosa podem causar alterações semelhantes nos estudos de imagem cerebral.

Quais as opções de tratamento?

A conduta no câncer cerebral depende do tipo de tumor a ser tratado. Os tumores benignos que não causam nenhum sintoma são apenas acompanhados com exames radiológicos periódicos. Quando causam sintomas, são submetidos à cirurgia com o objetivo de máxima remoção tumoral, exceto quando as lesões se localizam em áreas cerebrais com grandes chances de sequelas. Nos tumores malignos, normalmente se realiza a cirurgia seguida de uma terapia complementar com quimioterapia e radioterapia para tratamento de todas as células tumorais não removidas, além de diminuir a chance de recaídas em tumores com características sugestivas de crescimento rápido. Outros tumores podem ser tratados apenas com medicamentos, como em alguns casos de tumores da glândula hipófise. Tratamentos alternativos com novas drogas, uso de vírus ou vacinas estão em desenvolvimento, mas ainda disponíveis apenas em protocolos de pesquisas.

Há cura para o câncer de cérebro? Quais os riscos de sequelas?

É possível curar tumores cerebrais dependendo do seu tipo específico. Geralmente são curados os tumores benignos removidos por cirurgia ou alguns tipos de tumores malignos muito sensíveis ao tratamento de quimioterapia ou radioterapia. No entanto, há tipos de tumores que não podem ser curados, mas podem ser controlados por períodos variáveis. O risco de sequelas depende principalmente da localização e do tamanho do tumor, da sua infiltração no tecido cerebral e da malignidade. Diversas tecnologias em neurocirurgia, como monitorização intraoperatória e métodos minimamente invasivos, estão disponíveis para diminuir o risco de sequelas do ato cirúrgico. Nos tratamentos complementares, variadas modalidades de quimioterapias e de radioterapias com fracionamento de doses e delimitação mais precisa de área a ser tratada têm sido desenvolvidas recentemente, reduzindo os efeitos colaterais do tratamento.

Dr. Victor Vasconcelos

Neurocirurgião

Convidado pelo Grupo SOnHe