A sequência do congresso nos trouxe algumas apresentações marcantes.
Algumas delas tentaram provar que, em algumas situações, “menos é mais”. Ou seja, menos tratamento poderia proporcionar igual eficácia com menos efeitos colaterais.
Em pacientes submetidos à cirurgia curativa para câncer de colón e reto estádio III, foi estudada a possibilidade de diminuir o tempo de tratamento quimioterápico pós-operatório, dos atuais seis meses (o padrão) para três meses. Infelizmente, apesar de consideravelmente menos tóxico, o tratamento por três meses não pode ser considerado equivalente ao de seis meses, em relação à eficácia. Pelo menos não para todos os pacientes.
Resultados diferentes foram encontrados em pacientes com câncer de próstata, tratados com radioterapia. Para pacientes com alto risco de recidiva, o tempo de tratamento hormonal usado como padrão era de 36 meses. Já um novo estudo apresentado, demonstrou que fazer hormonioterapia por 18 meses deve ser suficiente. Melhor para os homens que sofrem muito com os efeitos da supressão de  testosterona. Nesse caso, menos tempo de tratamento trará melhora da qualidade de vida.
Na opinião do Dr. André Sasse, os resultados mais impressionantes foram os apresentados na sessão plenária do congresso, avaliando a importância da monitorização ativa. Nesse caso, são monitorados os sintomas e efeitos colaterais do tratamento em pacientes em tratamento quimioterápico.

A avaliação convencional foi utilizada como comparativo. Consiste em consultas periódicas antes das aplicações de quimioterapia, onde os médicos avaliam os efeitos colaterais do tratamento e ajustam os medicamentos e doses de acordo com a avaliação, caso seja necessário.

 

O monitoramento ativo se deu através de formato eletrônico. Com lembretes semanais aos pacientes, eles questionavam sintomas específicos. Um profissional de enfermagem era alertado automaticamente em caso de problemas, e esse mesmo profissional encaminhava o problema ao médico responsável ou resolvia por si em casos de baixa complexidade.
Esse sistema de monitoramento ativo diminuiu as complicações, a utilização de recursos hospitalares e o uso de pronto-socorros, como esperado. Também causou um impacto em sobrevida bastante significativo, muitas vezes não observado com a introdução de novas e caras tecnologias.

Assim, uma intervenção simples, barata e que aproxima médicos e enfermeiros dos pacientes, foi capaz de melhorar o seu prognóstico.
“É interessante observar que grandes avanços nos cuidados dos pacientes com câncer, vêm deixando a terapia mais simples e mais humana. E que a proximidade e o tratamento humanizado fazem muita diferença”, conclui André.

Já a Dra. Vivian Castro Antunes de Vasconcelos, trouxe suas análises sobre as novas perspectivas apresentadas no tratamento do o câncer de mama.

Segundo ela, as conquistas no tratamento do câncer de mama foram muitas nas últimas décadas, mas após essa ultima edição do Congresso Americano de Oncologia Clínica (ASCO 2017), ficou claro que a busca por novos tratamentos efetivos segue cada vez mais viva.

Os esforços dos oncologistas e pesquisadores do mundo todo se traduziram em brilhantes apresentações e ricas discussões.
Por ter tido a oportunidade de participar desse importante momento, Dra. Vivian escolheu alguns novos dados para compartilhar por aqui:

Com relação ao câncer de mama metastático, para as pacientes que têm receptores hormonais positivos,  foram apresentados três estudos interessantes demonstrando o papel da inibição da via do CDK4 e CDK6, o que é um conhecimento relativamente recente, e capaz de melhorar significativamente o tempo de vida das pacientes que vivem no cenário da doença ainda incurável.

O estudo Monarch 2 mostrou que para  pacientes que já tiveram progressão de doença com uma linha de tratamento hormonal, a associação de duas drogas, sendo uma já conhecida, chamada Fulvestranto e outra nova droga chamada abemaciclibe, traz um grande benefício clínico, mostrando 16 meses de boa resposta ao tratamento e sem aumentos na doença, enquanto o tratamento padrão até então proporciona 9 meses.

Para as pacientes que apresentam o subtipo de doença triplo-negativo também tivemos boas novidades, trazendo grande ânimo para esse tipo específico de doença, que apesar de ser o mais agressivo, ainda é o que conta com alternativas mais restritas de tratamento. Nos alegrou muito perceber que o conhecimento de novas vias moleculares são muito promissoras para que se possa encontrar melhores opções de tratamentos.

Dra. Vivian também considera importante, apresentar os dados em relação a inibidores da PARP e inibidores do PD1 (Imunoterapia).

O uso de um inibidor da PARP chamado talazoparibe para pacientes com mutação nos genes BRCA1/ BRCA2 mostrou grandes taxas de resposta, com redução expressiva da doença, mostrando a importância da inibição da PARP nessas pacientes.

Com relação à imunoterapia, que vem cada vez mais se revelando como uma verdadeira revolução no tratamento do câncer, o estudo Keynote 086 mostrou que o uso de Pembrolizumabe, inibidor de PD1, apesar de trazer taxa de resposta não expressiva, chamou muito a atenção foi peloprolongamento do tempo de vida surpreendente das poucas pacientes que responderam ao tratamento, conquistando um aumento no tempo de vida nunca antes visto, sendo importante ressaltar que as pacientes mantiveram excelente qualidade de vida durante o tratamento.

Para as pacientes com doença do subtipo HER2 superexpresso, onde os avanços conquistados na última década já se mostraram transformadores completos da história da doença, o estudo que trouxe certa inovação foi com o uso de uma droga já bem conhecida, mas em um contexto diferente.

Estamos falando do estudo Aphinity, no qual o uso do Pertuzumabe no tratamento adjuvante, ou seja, para pacientes que não tem doença metastática, e onde nosso foco está na cura ou no aumento do tempo livre de recorrência. O uso de dois agentes anti-Her 2, Pertuzumabe e Trastuzumabe foi capaz de melhorar ainda mais o que já conhecíamos com um agente único, passamos a ter 94,1% de pacientes completamente livres da doença em 3 anos. A magnitude do ganho com esse tratamento foi maior para pacientes com linfonodos comprometidos e com receptores hormonais positivos.

Apesar do estudo ser criteriosamente positivo para o que se propôs avaliar, considero que seja prudente fazer a ressalva de que os custos do tratamento são elevados mesmo para a realidade de países desenvolvidos, diante de um incremento dessa vez discreto, justificado pelo ganho extraordinário que já havíamos conquistado com o uso isolado de Hereceptin (93,2% em 3 anos), fazendo com que sua implementação seja cautelosamente pensada.

Dentre esses pontos importantes sobre os quais Dr. André e Dra. Vivan escolheram falar, fica a grande sensação de que muito trabalho tem sido feito e que estamos melhorando de forma mais acelerada do que em tempos anteriores, o que traz grande injeção de ânimo e esperança.